Nos últimos anos minha atenção foi cativa por um segmento do Corpo de
Cristo que tem sido chamado de Igreja sofredora.
por Ronaldo Lidório
Trata-se daqueles que, por serem cristãos,
foram seqüestrados e sobre eles nada se sabe. Dos encarcerados nas mais diversas
formas (domiciliar, pública, social, emocional...), dos deslocados de suas
terras e casas, dos preteridos de professarem abertamente a sua fé e ainda
daqueles que sofrem pela exclusão social ou pela angustiante miséria. É chocante
notarmos que 1 em cada 3 cristãos no mundo de hoje sofre algum tipo de
perseguição, e cerca de 120 milhões habitam em regiões onde há perseguição
hostil.
Não podemos fechar os olhos, nem o coração,
para esta Igreja que vive e sofre.
O sofrimento não é novo na história do povo de Deus. Em Atos capítulo 8, a
Igreja que amava a Jesus e se ajuntava em Jerusalém passou por uma de suas mais
fortes provações. No primeiro verso deste capítulo Lucas nos diz que a Igreja
era “perseguida”, utilizando aqui um vocábulo grego – diogmos - que significa um
forte e visível ataque. Indicava que o sofrimento da Igreja nesta época de
dispersão era perceptível por todos. Homens e mulheres eram mortos, outros
encarcerados, famílias partidas ao meio e aqueles que conseguiam fugir deixavam
para trás suas vidas e história. Esta “perseguição” era, portanto, um terrível
sofrimento físico, visível e violento.
No segundo verso Lucas nos diz que a Igreja “pranteava” a morte de Estêvão. O
autor, inspirado, escolhe a expressão grega kopeton que significa a dor da alma,
ou bater no peito para expressar este pranto. Mostra que esta Igreja se
melancolizava pelo caos ao seu redor e, assim, não havia apenas dor no corpo,
mas também na alma. Esta Igreja chorava de forma visceral a morte de Estevão, e
tantos outros, sofrendo tanto física quanto emocionalmente.
No terceiro
verso somos levados a ler que Saulo “assolava” o povo de Deus, utilizando-se
aqui a expressão elumaineto que possui a mesma raiz da usada em João 10:10
ligada à destruição da fé e das convicções quando se refere àquele que veio
roubar, matar e destruir. Trata-se de um sofrimento espiritual quando os
alicerces das convicções mais profundas são atacados.
Estes três níveis de sofrimento descritos em contexto de perseguição em Atos
8 (físico, emocional e espiritual) podem muito bem ilustrar as vias de dor da
Igreja ao longo de sua história, bem como nos dias de hoje. Deve nos ensinar que
(1) seguir a Cristo – e mesmo fazê-lo com devoção e fidelidade – não isenta o
crente do sofrimento; (2) em meio a estes sofrimentos não estamos sós, pois
maior é Aquele que está em nós; (3) o sofrimento é uma oportunidade de se
alicerçar a fé - daquele que é provado no dia mau – e de expressar amor e
sincera solidariedade - por parte daquele que pode estender a mão.
A Coréia do Norte apresenta a mais intensa intolerância religiosa no mundo de
hoje e por sete anos se destaca em primeiro lugar na Classificação de Países por
Perseguição editada por Portas Abertas Internacional. Encontros cristãos são
proibidos e somente realizados sob alto risco e custo. Há pouquíssimas bíblias
no país e, assim, poucos cristãos com seu próprio exemplar da Palavra de
Deus.
Há no momento cristãos encarcerados, e tantos outros seqüestrados, na
Argélia, Azerbaijão, Eritréia, Iêmen e Indonésia, entre vários outros países. No
Irã a Missão Voz dos Mártires notifica a forte intimidação sobre aqueles que
professam sua fé em Jesus. A medida que a Igreja cresce, também cresce a
perseguição. Na década de 90 muitos líderes cristãos foram assassinados.
A Eritréia passa pela época de mais intensa perseguição religiosa em sua
história. A distribuição de Bíblias não é permitida e em 2002 todas as igrejas
evangélicas foram fechadas por ordem governamental. Cerca de 2.000 cristãos
foram presos por se reunirem para louvar a Deus. Muitos são mantidos em
condições subumanas, celas subterrâneas ou contenners de metal.
No Egito um recente relatório sobre os direitos humanos apontou para a
perseguição semi velada dirigida aos 80 milhões de cristãos coptas que não
conseguem permissão para construir igrejas ou orar em casa. Há cerca de 4
ataques por mês contra os coptas no país, e 144 ataques já foram registrados em
2009.
No Iraque milhares de cristãos continuam a fugir da violência, tanto em Bagdá
quanto em Mosul, deixando para trás suas casas a procura de refúgio no Curdistão
e outras áreas de fronteira. Os cristãos no Iraque, que eram 1 milhão e 400 mil
em 1987 não passam hoje de 500 mil. Estes cristãos deslocados enfrentam severa
provação, pois se encontram em solo estranho sem emprego, carreira, dinheiro ou
amigos.
No norte da Índia a perseguição contra cristãos deslocou um grande número de
pessoas que ainda não puderam voltar para suas casas. Igrejas foram queimadas e
há um sentimento de insegurança. Apenas na região de Karnataka foram registrados
56 ataques ao longo de 2009 contra igrejas e cristãos.
As restrições para se partilhar de Jesus atingem os mais diversos países e
áreas. Transitam desde algumas reservas indígenas da Amazônia, passando pelo
Norte da Nigéria até o distante Afeganistão.
Devemos orar e trabalhar para que: (1) Cristãos ao redor do mundo recebam
exemplares da Palavra de Deus; (2) Os países e regiões onde há clara perseguição
cristã possam experimentar abertura política, social e religiosa; (3) Cristãos
sob perseguição sejam encorajados, e aqueles sob intensos ataques sejam
fortalecidos no Senhor; (4) Sejam libertos os que, sob perseguição, foram
encarcerados ou seqüestrados; (5) Cristãos deslocados sejam apoiados para
recomeçarem a vida em novas regiões; (6) O testemunho dos perseguidos possa
guiar muitos aos pés do Senhor Jesus; (7) A Igreja livre possa juntar-se em um
só espírito àquela que sofre perseguição.
Em um país da Ásia central vi recentemente irmãos que amam a Jesus colocando
suas vidas, famílias, carreiras e reputação em risco, alto risco, para
testemunharem do amor do Pai. É necessário nos juntarmos a eles para chorar com
os que choram e encorajá-los a seguirem este caminho estreito, que os leva à
Alegria que se renova pela manhã.
Conheça os projetos de apoio aos cristãos
perseguidos
www.portasabertas.org.br
www.vozdosmartires.com.br http://www.ipb.org.br/portal/artigos-e-estudos/228-a-igreja-perseguida
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